segunda-feira, julho 24, 2017

FILHA DE PACIENTE ACUSA HOMECARE DE NEGLIGÊNCIA

Terceira Via


Paciente do programa municipal de homecare fica sem atendimento emergencial

Idoso de 94 anos passou mal e teria tido transporte negado pela empresa Intermedical, contratada sem licitação

CAMPOS 
POR MARCOS CURVELLO
 
24 DE JULHO DE 2017 - 13h31
idoso-homecareFalta de médicos especializados, medicamentos e até de transporte. O dia-a-dia de quem necessita do serviço de homecare oferecido pelo governo municipal é um exercício de paciência e improviso, garante Jussara Maria Lopes, de 53 anos, moradora do Parque Guarus, em Campos. Ela deixou o trabalho como vigilante para cuidar do pai, que tem 94 anos, sofre dos males de Alzheimer e Parkinson, é hipertenso e se submeteu, recentemente, a uma cirurgia para retirada de um aneurisma cerebral. No último sábado (22), o idoso passou mal e precisou de atendimento, mas a empresa Intermedical, contratada pela Prefeitura para prestar a assistência domiciliar, teria se negado a enviar uma ambulância para levar o paciente a uma unidade de saúde.
O motivo, segundo Jussara, é a redução dos serviços oferecidos aos beneficiários do programa municipal de homecare. Seu pai tinha direito a quatro consultas médicas por mês. O número foi reduzido para apenas uma. As sessões de fisioterapia também acontecem com frequência reduzida: passaram de cinco vezes por semana para apenas três. Jussara afirma que o pai tem direito a ser atendido por uma ambulância em apenas uma ocasião a cada 30 dias. Com o idoso passando mal, foi necessário recorrer ao Emergência em Casa.
(Foto: reprodução)
(Foto: reprodução)
“Eu liguei para o programa e uma ambulância veio atender meu pai, que teve que ser retirado em um lençol, por que os corredores da nossa casa são estreitos e não passa uma maca. Eles disseram que não deveriam prestar o socorro, porque meu ele é assistido pela Intermedical e esta seria uma obrigação da empresa, mas eles ficaram com a gente mesmo assim e foram muito atenciosos”, conta a vigilante.
O atendimento, porém, ainda demoraria a acontecer. Jussara conta que o pai primeiro foi levado pela ambulância para o Hospital Geral de Guarus (HGG). O idoso chegou à unidade sentindo muita falta de ar, mas não havia vagas.
“Saímos às pressas e fomos para o Hospital Ferreira Machado (HFM), mas, mais uma vez, não fomos atendidos. Disseram que não havia médico. Seguimos, então, para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) só que lá não tinha medicação. Só fomos ter atendimento no Samdu de Guarus. Mesmo assim, meu pai ficou sem um dos quatro medicamentos que precisava tomar por que estava em falta”, diz a vigilante.
De acordo com Jussara, o pai recebe atendimento domiciliar há três anos. Ela diz que o serviço prestado pelo município “piorou desde que a Intermedical foi contratada”, em março. A escolha da empresa causou polêmica, pois foi feita em caráter emergencial, com dispensa de licitação, a um valor de R$ 7,285 milhões para os cofres públicos.
“Além das reduções das consultas e das sessões de fisioterapia, meu pai não tem à disposição o atendimento que foi determinado pela Justiça. O juiz Eron Simas estipulou que ele tivesse acompanhamento de cinco especialistas: cardiologista, neurologista, pneumologista, otorrinolaringologista e dermatologista, mas ele é atendido apenas por um clínico geral. Parte dos medicamentos garantidos pela sentença somos nós que temos que comprar, assim como bancamos o transporte na grande maioria das vezes”, enumera Jussara.
A Prefeitura está ciente do caso, assegura a vigilante.
“A empresa diz que a Prefeitura determinou a diminuição da frequência da prestação do serviço, mas, estive na secretaria de Saúde e me disseram que a decisão foi da empresa. Pediram que eu levasse um rascunho informando o quadro terapêutico de meu pai. Levei na sede da Saúde e eles ficaram de passar para a empresa. Até agora, não tive respostas. Sinto-me péssima, pois eu vi meu pai praticamente morto. Vou ao Ministério Público, à Defensoria Pública, por que alguém precisa tomar uma atitude”, finaliza.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que está apurando junto à empresa os procedimentos utilizados para atendimento ao paciente. “Em relação ao Hospital Geral de Guarus (HGG), não há registro de negativa de atendimento. O Hospital Ferreira Machado estranha a natureza da reclamação pois, cada plantão, conta com 17 especialidades médicas. No entanto, a direção da unidade está apurando o que pode ter ocorrido. As duas unidades hospitalares contam com setor de Ouvidoria, que deve ser acionado sempre que a população quiser fazer reclamações ou sugestões”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua opinião