quarta-feira, dezembro 31, 2014

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Estou cansado das ausências dos meus pais.
“Pai e mãe, ouro de mina”.
Do meu pai, são infinitos 49 anos (completados, ontem, 28). Da minha mãe, são quase 5 anos, que mais parecem cinco séculos. Pais e filhos são assim mesmos, exagerados.
Resolvi, então, que quero um pai e uma mãe, em 2015.
Mas, vou logo avisando que não é qualquer pai e qualquer mãe.
Pai tem que ter um nome original, Anleifer, que seja anagrama do nome do seu pai, Antonio Leite Fernandes; tem que ser leitor voraz de romances brasileiros; tem que ser cinéfilo; pé de valsa; filho, incondicionalmente, amoroso e devotado; terno na tarefa de educar seus filhos; autodidata e, apesar, de amargar sua vida de infante sob a bota covarde de seu padrasto, ser um incorrigível sonhador. Ah, ter um sorriso compassado e franco e guardar leve semelhança com Humpfrey Bogart (embora, mais bonito).
Mãe tem que ser “filha de Maria” e do Apostolado e guardar as fitas das irmandades, impecáveis e dobradas, na parte central do guarda vestidos; tem que amar como só as mães sabem, àquelas que amam e sinalizam para as fronteiras morais; amam e dizem não; amam e castigam, quando preciso; amam e formam homens e mulheres íntegras; amam e ralham e punem e não quebram seus filhos porque não os pariu de louça; tem que seguir as regras de sua mãe, que, por sua vez, seguiu as da sua, mas todas tiveram tempo e disposição para, cortar estradas à cavalo, para fazer permanente no cabelo para os bailes da época.
Quero-os jovens ainda, com saúde e aquela coragem cada vez mais rara no mundo mais moderno e mais medroso. E solitário.
Se não for assim.
Deixe-os ao som de uma orquestra, no salão iluminado de minha memória afetiva.

(FLF)

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