segunda-feira, setembro 29, 2014

AVENIDA ARTHUR BERNARDES, 70 ANOS

O arquiteto urbanista, Renato Cesar, revela, nesse texto didátido, a  perimetral Artur Bernardes que deveria ser e a que a prefeitura construiu.

Leia:

Ao ser inaugurada a terceira etapa, a Avenida Arthur Bernardes atinge a sua plenitude aos 70 anos de idade. Projetada nos anos 1940, pelo Plano Urbanístico de 1944, conceituada como "Avenida-Parque", previa oferecer condição ambiental favorável ao município de Campos, basicamente por dois aspectos principais: ser um arco arborizado em toda sua extensão e retirar o fluxo de veículos das áreas centrais do perímetro urbano, rompendo o conceito radial de circulação, característico do período renascentista, ao mesmo tempo que se consolidava como vetor de desenvolvimento urbano, por ser via rápida e segura. Mas, apesar de ser um dos mais significativos planos urbanísticos desenvolvidos para Campos, o Plano Urbanístico de 1944, promoveu a implantação de importantes corredores viários,  por vários trechos segmentados, tando da própria Avenida Arthur Bernardes, quanto da Avenida Nossa Senhora do Carmo, esta corre o risco de aguardarmos mais 70 anos para ser implantada?, tendo o seu leito invadido em vários trechos. Outras como, Avenida Nossa Senhora de Fátima, Avenida Pero de Góis - que tiveram menos sorte e encontram-se interrompidas. Ainda existem as  Avenida Campista, Avenida Petrópolis, Avenida Teresópolis e Avenida Messias Urbano, estas na margem esquerda do Rio Paraíba do Sul, ou seja, em Guarús, algumas sem cumprir a expectativa e sua função enquanto importantes corredores viários, como caso da Avenida Messias Urbano e da Avenida Campista, que possuem trechos de invasão do seu leito, inclusive o da Av. Messias Urbano, por uma estação de tratamento de esgotos.

Mas, quanto a recém inaugurada plenitude da Avenida Arthur Bernardes, temos algumas observações a fazer, que podem ter passado despercebidas - apesar de ter sido contratada assessoria da TECTRAN, empresa mineira, para mobilidade urbana por mais de R$ 2,7 milhões de reais (Diário Oficial de 29/05/2014), deixando no ar as explicações, de por quê o pior de Minas Gerais vem para cá, primeiro foi o caso da BK (empresa de ônibus), agora a TECTRAN (bem que poderiam conversar com o candidato mineiro a presidente, que diz ser a melhor opção) - mas que são importantes para que o seu uso glorie uma das mais importantes obras viárias de Campos implantadas, até o momento, apesar da espera por 70 anos, perdendo o seu significado de expectativa apenas para o desvio da BR-101. São elas:

1- Supressão do viaduto:

Inicialmente o edital de licitação, previa viaduto no cruzamento da Av. Arthur Bernardes com Av. 28 de Março, porém, sem maiores justificativas, este foi suprimido - a despeito da assessoria da PCE, que somente no último mês, faturou mais de R$ 1,5 milhões de reais - passando este cruzamento ser em nível ordenado por sinal luminoso, contrariando o princípio fundamental de fluxo rápido porém seguro das vias arteriais, conforme características de ambas. Uma razoável alternativa, em substituição ao viaduto, seria a disponibilidade de rotatória;

2- Manobra de retorno:

Há algum tempo, foram abolidas as variantes de retorno ao longo da Av. Arthur Bernardes, como adotadas em outras vias arteriais, como a Av. 28 de Março, Av. Dr. Nilo Peçanha, Av. Dr. Alberto Lamego e Av. Dr. Felipe Uebe, por exemplo, sendo criados corredores indutores de fluxo pesado, intra-bairros, adjacentes, sempre na primeira quadra destes. Ora, se pretenderam dar nova disposição à condição de retorno, que o fizessem dotando esses trechos dos bairros - cujas vias são locais, de menor fluxo, na hierarquia viária - de dispositivos de segurança para os moradores, especialmente crianças e idosos, como os moderadores de tráfego, conhecidos como "traffic calming", além de sinalização vertical e horizontal para os motoristas e moradores ficarem atentos. Outros procedimentos que não se viu, foi o de reforço da infra-estrutura da pavimentação, que sofrerá danos pelo aumento do fluxo de carga e movimento nas vias locais; também, ficou complicado retornar em direção oposta, sendo assemelhado o fluxo da Av. Arthur Bernardes, como está, aos túneis, ou seja, a partir da entrada só há saída na outra extremidade;

3- Sinais luminosos nos entroncamentos com R. Saldanha Marinho e R. Tenente Coronel Cardoso (leste-oeste):

Mais uma vez, há equívoco quanto ao entendimento da natureza das características das vias arteriais com cruzamento em nível, sendo agora pior a adoção do sinal luminoso devido a retenção do fluxo na Av. Arthur Bernardes, em pouco mais de 200m, entre as vias mencionadas que escoam no sentido leste-oeste. Mais uma vez, se não quiseram adotar o viaduto, que fosse pensado a rotatória neste setor, que poderia dar maior mobilidade aos fluxos das diversas vias, em segurança, havendo sobretudo a implícita forma educativa para os motoristas, que aprenderiam a ceder a vez, tendo como prioridade quem está na rotatória, conforme praxe. Os sinais em Campos, possuem funcionamento transtornado, e em vias de menor importância tem proporcionado mais problemas do que soluções.

4- Variante e sinal no entroncamento com a Avenida Alberto Lamego, em frente a UENF:

Aqui, temos o misto de primarismo e irresponsabilidade com o tratamento e a disponibilidade de vias envolvendo corredores viários arteriais. De forma alguma, deveria ter sido disponibilizada variante de acesso direto do Campus da UENF à Av. Arthur Bernardes, cruzando perpendicularmente a rotatória e as duas pistas de rolamento, especialmente deveria ser abolido o sinal luminoso que trava a saída do Campus da UENF, imaginem a situação em casos de escoamento de emergência ? A manobra correta, seria, para quem sair da UENF, ir à direita - como aconteceu até a liberação total da Av. Arthur Bernardes - pela via de aceleração, no sentido do fluxo da pista adjacente até a variante de retorno mais próxima (Cond. Bouganvillé), atingindo a pista no sentido contrário, para daí, se conectar à Av. Arthur Bernardes. É sobretudo questão de segurança e mobilidade;

5- Controle de uso da ciclovia:

Estão, há algum tempo, competindo de forma desigual, pedestres e ciclistas, tendo em muitos casos os primeiros se sentindo "donos do pedaço". Não o são, estão correndo risco de serem atropelados e sofrerem sérios ferimentos, visto as ciclovias, como o nome diz, serem vias exclusivas para bicicletas. Prevalecendo o uso das ciclovias pelos pedestres, os ciclistas, poderão optar por circularem nas pistas de rolamento dos veículos.


6- Marco inaugural:

Diante da importância e significado dessa obra, aí sim, a Prefeitura deveria dar maior simbolismo à obra implantando um marco - que poderia ser em uma das rotatórias (com a Av. 28 de Março ou com R. Tenente Coronel Cardoso x R. Saldanha Marinho, caso existissem) condizente com o acontecimento, e não uma plaquinha "xoxa", que nem a data de inauguração possui e que corre o risco de ser "surrupiada" pelos ventos, ou o nordeste ou os dos fluxos dos veículos.

7- Os alinhamentos do logradouro:

Em algumas oportunidades, já alertamos que há problemas de invasão dos recuo obrigatório frontal dos lotes ao longo de toda a Avenida Arthur Bernardes, soma-se a isso, a desconformidade da largura deste logradouro, ou seja, a largura total da Avenida Arthur Bernardes, não está de acordo com o definido no modelo de via arterial da Lei de Parcelamento e Uso do Solo (7975/2008), nem no trecho novo, havendo variações ao longo do percurso. As calçadas, por exemplo, deveriam ter 6,00m de largura, vide, itens 1 e 2 do Anexo III.

Enfim, a aguardada Avenida Arthur Bernardes, foi entregue à população de Campos depois de 70 anos de idealizada, com conflitos ainda não resolvidos que poderão causar problemas sérios se não forem logo tratados, resolvidos. Este "senhor" de 70 anos de idade, merece mais respeito.

Abç.

Renato César Arêas Siqueira
arquiteto e urbanista
perito técnico
professor bolsista UENF

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