sábado, setembro 29, 2012

HEBE PAULISTA CAMARGO

Há pessoas que se identificam tanto com o lugar onde vivem e não, necessariamente, nasceram ali, que passam a fazer parte da paisagem, da geografia, da história. Viram patrimônio humano. São Paulo é Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Adoniram Barbosa, Rita Lee, Silvio Santos, Paulo Maluf e Hebe, entre outros naturalmente. 

E essa identidade não é medida com régua moralista ou politicamente correta. É identidade cultural.

Por isso me ocorre, hoje, com a morte de Hebe, lembrar de uma poesia-testamento de Mario de Andrade: 

Quando eu morrer quero ficar:

Quando eu morrer quero ficar, 
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade, 
Saudade. 

Meus pés enterrem na rua Aurora, 
No Paissandu deixem meu sexo, 
Na Lopes Chaves a cabeça 
Esqueçam. 

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano: 
Um coração vivo e um defunto 
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido 
Direito, o esquerdo nos Telégrafos, 
Quero saber da vida alheia, 
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade. 
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

Mário de Andrade

Um comentário:

  1. Hebe era(É)um grande exemplo de consciencia de que a vida é para ser VIVIDA com muito humor e sem rancor.
    Que descance em paz( se é que deseja descansar não é mesmo ?)

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