No clima das comemorações dos 131 anos, ouso
recordar e compartilhar a emoção expressa em palavras para
lá de simples, no volume 2, do livro "Liceu - Poesia e Prosa para
uma Homenagem".
De Pai para Filha, uma História de Amor
minha primeira neta,
nascida em 6 de outubro de 2005, que,
certamente, vai conhecer e amar o Liceu.
Quando fui incumbida a auxiliar a professora Denise Menezes Balbi na organização deste volume, fiquei bastante entusiasmada, pois registrar sentimentos, lembranças e fatos sobre o Liceu de Humanidades de Campos, nos seus 125 anos de existência, é projeto bom demais, especialmente num país que não valoriza sua história e, conseqüentemente, trata com descaso a sua memória.
Minha intenção inicial é saudar os autores e colaboradores do “Poesia e Prosa para uma Homenagem”, volume II, sem, contudo, deixar de enaltecer a iniciativa de todos que tiveram a sábia e brilhante idéia de editar o primeiro.
Não imaginava, naquele momento, que seria árdua a minha tarefa. Sobretudo, porque compartilho este espaço gráfico com liceístas legítimos e autênticos, o que me coloca, na linguagem dos nossos antepassados, como uma liceísta “natural”, “adotiva”.
Filha de Themis Torres Lima, sobrinha de Hélvia Torres e de Geraldo Lima não é de surpreender que tenha cursado o Ginásio e a Escola Normal no Instituto de Educação Professor Aldo Muylaert, onde vivi parte da minha agradável e feliz adolescência e fiz inúmeras amizades, sendo que duas resistem bravamente, indiferentes a espaço, tempo e circunstâncias: Maria Coeli Campos Fernandes Ribas e Lígia de Freitas Sodré Vasconcelos.
Olhando com olho comprido, à distância, observava o Liceu de forma curiosa e perscrutadora, até que, em março de 1972, na gestão da professora Conceição Sardinha, meu tio Geraldo Lima, amicíssimo de D. Conceição e desejoso de colaborar com o futuro da sobrinha, conseguiu uma vaga para mim, como professora substituta, já que a professora Nilce Brandão assumira a Coordenação de Inglês.
Se o coração batia forte, diante do novo desafio a enfrentar, a paisagem não me era, absolutamente, estranha, pois já a conhecia, com riqueza de detalhes, através dos relatos, banhados de saudade e afetividade do meu sempre querido e amado pai, Osvaldo Lima. Entre as suas paixões, o Liceu ocupava lugar de destaque, embora o tenha freqüentado por pouco tempo, pressionado pela necessidade de trabalhar para ajudar no sustento da família. Freqüentes eram as suas viagens pelo túnel das lembranças, quando, às refeições ou deitado na cama, no quarto da sogra, minha avó Mariana Ferreira Paes Torres, se punha a contar passagens interessantíssimas, todas precedidas da observação de que “era um lugar onde me sentia igual a todos os outros, não havendo discriminação entre pobres e ricos”. Talvez, fosse esse o seu encantamento maior, já que era filho de um pintor de parede, fato do qual muito se orgulhava.
Assim, misteriosamente aliciada e seduzida, já eram meus conhecidos: o sino; o portão de ferro; o mirante; a austeridade e a bondade de S. Olímpio; o grandioso saber do professor Jerônymo Ribeiro, expresso na singeleza e na humildade que só os grandes de espírito conseguem ter; a forma carismática e autodidata com que o professor João da Hora administrou, por muitos anos, o destino da escola; o Orfeão Juca Chagas, regido pela querida tia Alcídia e que nos brindava, a cada Natal, incluindo a nossa casa na sua peregrinação natalina. Posteriormente, o Orfeão ficou sob a direção artística da talentosa e criativa Nicolina Bello de Campos, de quem guardamos gratas e suaves lembranças.
O Conjunto de Percussão Dora Pinto, regido pela vibrante Evany Medina; a LAECE e seus incríveis “rapazes diretores”; o Teatro Liceísta, comandado pela saudosa e competente Ruth Ribeiro do Rosário, cujas apresentações eu não perdia, no antigo Trianon; a Banda Marcial João Tavares da Hora, com suas balizas e o imponente uniforme, nas cores branca e vermelha; a Banda Arlindo Farinelli, com quem tive a honra de conviver e desfrutar da presença amiga e muitas, muitas outras lembranças, nas quais Tarcidy Coutinho (o nosso memorável Tacinho), S. Rubens, Makeda, S. Ivo, D. Latife, minha tia Celi Lima, Daria, S. Jaime, D. Jacira, Creuza Tomás e Jorge da Paz Almeida passeiam livres e prazerosamente.
Este último, o “véio” Jorge “Chinês”, me deu a honra de desfrutar, mais um pouco, da sua convivência, de 1993 a 1996, quando presidi a Fundação Cultural Jornalista Osvaldo Lima, sendo ele funcionário da Biblioteca Municipal Nilo Peçanha. Impossível não incluir Jorge entre os patrimônios campistas, cuja contribuição à cultura popular, ao folclore e à cultura afro-brasileira é valiosa e marcante. Salve, Jorge!
A cada 7 de setembro, meu pai saía religiosamente, não só para prestigiar a filha e a escola da qual fora Diretor, mas para ver o seu inesquecível Liceu que, segundo a tradição, encerrava a parada. Lembro-me, nitidamente, de sua emoção, incontida nas lágrimas, diante do desfile que marcou a gestão do Dr. Ewerton Paes da Cunha, tema do seu poema “Liceu da Independência”, dedicado à amiga e comadre Alcídia Perez Pia e que consta do volume I .
Saudando, finalmente, esse jovem velho Liceu, nos seus 125 anos, o faço dedicando essas simplórias palavras a um liceísta ilustre, do qual, como ele mesmo escreve em recado para tio Hervé (Hervé Salgado Rodrigues), sou “porta-estandarte do seu fã-clube”: José Cândido de Carvalho.
Numa ousadia sem igual, rabisco um bilhete para Zé Cândido, esperando que chegue breve no céu, durante uma reunião celestial do “rotary clube literário”, que tem, no quadro de Sócios Beneméritos, tio Hervé, S. João (João Sobral), Dr. Edgar Coelho dos Santos e Osvaldo Lima, todos com cadeiras cativas.
Campos dos Goytacazes, 22 de novembro de 2005.
Caro amigo Zé Cândido,
Maria Cristina Torres Lima
CRISTINA LIMA, PARABÉNS! BELA HOMENAGEM AO NOSSO TÃO QUERIDO "LICEU".
ResponderExcluirPEÇO PERMISSÃO PARA INCLUIR TRÊS PESSOAS QUE SE DEDICARAM COM CORAÇÃO E MENTE , OS BRILHANTES: LULU BEDA; O SENSACIONAL LUIZ MAGALHÃES E A NOTÁVEL MAGDALA FRANÇA VIANNA!
Brilhante, Cristina. Vc traduziu o grande mistério que os liceistas carregam consigo para o resto da vida:um amor irretratavel por esta escola mítica.
ResponderExcluirParabéns!
Fernando
Obs: o bilhete para Zé Cândido está no estilo dele. Uma jóia.
Numa segunda-feira de novembro, chuvosa e com liminar acabando, só a bondade de um coração como o seu, Fernando, e uma amizade que pretendo levar à eternidade, poderiam me proporcionar um bater tão forte do coração, ante a surpresa dessa postagem! Agradeço, profundamente, mais essa gentileza, envolvendo, tb, o anônimo que se manifestou! Forte e carinhoso abraço.
ResponderExcluirÉ com lágrimas nos olhos que termino de ler ...
ResponderExcluirA mística liceista é DEMAIS e quem não a tem em seu espírito , que pena, passará sem sentir ¨algo¨ incomunicável mas espetacularmente presente dentro de cada liceista...
Qta saudade...
Cara Cristina,
ResponderExcluirpor instantes me vi de novo naqueles corredores mágicos do velho Liceu.
Muito, muito obrigado!
Cara Maria Cristina, torno tambem minhas as suas lembranças, obrigado por compartilhá-las de forma tão generosa. A propósito, como diria o meu amigo Esio Macedo, tambem liceista, acredito piamente que não há no mundo todo montanha mais alta do que aquele último degrau da escadaria do Liceu, quando é pela primeira vez vencido.
ResponderExcluirMais uma vez, grato pelas lembranças, do seu "compatriota",
João da Hora Filho
Cara Maria Cristina, com sua permissão, torno agora tambem minhas as suas lembranças. Obrigado por compartilhá-las de forma tão generosa.
ResponderExcluirE por falar em lembranças, diz o meu amigo Esio Macedo, outro liceista apaixonado, que não há montanha mais alta do que aquele último degrau da escadaria do Liceu quando galgado pela primeira vez.
Um abraço agradecido pelas lembranças, do seu "compatriota"
João da Hora Filho