Mas a fotografia em questão é uma referência à Terra Prometida, um bairro inventado na década de 90, na região elevada da área urbana de Campos dos Goytacazes, nas franjas de Guarús. Longe, geograficamente, do centro e distante de políticas públicas inclusivas, o bairro amarga os mesmos índices históricos de pobreza e fragilidade social desde sempre.
Quando foi articulado, sob inspiração bíblica, as casas foram construídas numa parceria do Poder Público e dos moradores. A Prefeitura financiava o material de construção e as famílias beneficiadas cuidavam da mão de obra. Poderia ter dado certo, mas o governo que o concebeu, começava, prematuramente, a apodrecer politicamente.
A Terra Prometida ficou na promessa vã.
Hoje, fui ao bairro cumprir um compromisso pessoal. Passei pelo Posto Novo Mundo, Eldorado, Novo Eldorado, Codin e a impressão foi de terra arrasada. Esgoto à céu aberto, quando há esgoto; ruas intransitáveis, enfim todas as digitais do caos social.
Na Terra Prometida o governo inexiste. Lá não há a escola libertadora, cidadã; não há medicina preventiva; não há programas de controle da natalidade; não existem núcleos de cultura popular, não há entretenimento. Sobram igrejas, de todos os formatos e tamanhos, que buscam resgatar, pelo menos, as almas. Lá, o Poder Público é uma abstração.
Voltei pra casa com o mesmo sentimento de Vinícius, Garoto e Chico Buarque, quando fizeram Gente Humilde: “Tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim todo o meu peito se apertar” ... “são casas simples com cadeiras nas calçadas e na fachada escrito em cima que é um lar”. Reforcei minha crença que essa cidade precisa ser reinventada. De verdade e urgentemente.
Por ora, já nos escombros de 2010, só me ocorre desejar Felizes Anos Novos a essa gente humilde, mas valente, da Terra Prometida e de todas as outras Terras Prometidas e não cumpridas dessa Planície.